Rubens Amador

Do meu tempo de recruta (parte 1)

Rubens Amador
Jornalista

No começo de 1947 sentei praça, no então 9º Regimento de Infantaria, aqui em Pelotas. Nos meus primeiros dias de quartel, em uniforme de serviço, certa manhã o sargento da minha companhia reuniu cerca de 30 homens e perguntou: "Quem gosta de piano? Quem gostar levante o braço!". Na minha inexperiência, pensei logo: deverão valorizar quem gosta de música, e ergui meu braço, entre outros seis. Ele contou os que apreciavam o instrumento e disse: "Os seis que levantaram o braço venham comigo que irão descer um piano do primeiro para o andar térreo!". Foi o meu batismo de fogo.

Naquele tempo, servir ao Exército era algo tratado muito seriamente. Tínhamos exercício de tiro. Aprendíamos a montar e desmontar o fuzil Mauser, 1908. Atirávamos com a metralhadora Hotchkiss, francesa, e fazíamos frequentes marchas, pois éramos de infantaria, ao Passo do Vianna, onde acampávamos em barracas que armávamos. Dois em cada uma. Enfrentávamos noites de frio intenso no inverno e, nos exercícios que eram ministrados por um primeiro tenente (carioca), aprendíamos como era uma vigília, uma tocaia, um ataque, ocasião em que, com fuzil de baioneta calada e equipamento às costas, ante tiros simulados, nos jogávamos no chão e girávamos o corpo para um lado ou para o outro. Era dureza.

Quando chegava a hora do almoço a gente comia a "boia" que era feita lá mesmo, nas cozinhas puxadas por cavalos. Havia a célebre fila e cada um recebia sua ração, com direito a voltar. O feijão nós chamávamos de "quebra nuca", por certa dureza que apresentava ao mastigar-se. O arroz e a massa eram os "unidos venceremos", pois eram muito grudados. Mas era uma comida que a gente saboreava com gosto e voracidade, pois estávamos com fome devido aos exercícios.

Em certo terreno do Passo do Viana, havia uma profunda depressão, com cerca de cinco a oito metros de profundidade, e ali os oficiais metiam uma companhia inteira de recrutas e, lá de cima, de um lado, três metralhadoras Hotchkiss disparavam por longo período, e nós ouvíamos o zunir das balas verdadeiras por sobre nossas cabeças para termos ideia de como seria em uma guerra.

Aprendia-se disciplina e organização. Pela manhã, quando se ficava no quartel, às 6h tocava o despertar e todos se levantavam, arrumavam suas camas e iam para um café generoso, com pão fresquinho, café com leite. Nós lavávamos nossas canecas de alumínio e os pratos em que comíamos, quando acampados, em uma fonte de água muito limpa, e a gordura era removida com areia, pois não havia sabão como em uma guerra de verdade.

(Continua no próximo final de semana)

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